Biografia

Cuca Roseta

Alma, destino e verdade

Nestes dias difíceis e cépticos começa a ser quase perigoso acreditar em predestinações e outros fenómenos que dependam mais do espírito do que dos sentidos. Mas depois conversamos com pessoas como a Cuca Roseta, que de repente, num sorriso meio desabafo meio suspiro, confirma docemente: «Acho que nasci para isto». «Isto», entenda-se, é a sua vida. «Isto» é o fado.

E é esta absoluta sinceridade, quase à beira da displicência, que nos deixa perplexos, quase escandalizados. Esta aceitação natural de um destino, visível nos olhos escuros de Cuca, é também o sinal do que o que diz é genuíno e sentido. E ainda por cima tem razão.

Felizmente para nós, o primeiro passo desse destino está agora registado em nome próprio: Cuca Roseta, o disco de estreia, mostra a a verdade de quem canta aquelas palavras. Porque o fado tem este mistério: não deixa mentir.

Já lá iremos. Demoremo-nos agora um pouco pelos dias de Isabel «Cuca» Roseta , para percebermos que palavras tão gastas como essenciais – quando se escrevem textos sobre fado – por vezes fazem todo o sentido. Palavras como «destino» ou «alma», por exemplo.

A verdade é que nada na vida de Cuca Roseta deixava prever o fado que um dia a iria escolher. Não havia na família antecedentes fadistas e o género musical mais ouvido na sua casa era a música erudita. Até que, aos 18 anos, vai a uma casa de fados. Primeiro embate, primeira pequena invasão na alma de Cuca Roseta: se o fado ainda não a seduzia por completo, começou a precisar dele para a vida: «Ia às casas de fado mais pelo lado emocional, era muito intenso», lembra. Sem o saber já era tarde: o fado tinha-a definitivamente escolhido.

Começou a cantar, timidamente. Uma vez, um ouvinte especial percebeu na sua voz a verdade que começava a saber dizer. Era Carlos Zel, que insistiu: «Tens de aprender mais fados». Ela prometeu que o iria fazer.

Mas a vida tem esta mania de se intrometer nos nossos planos e de repente Cuca pertence a uma banda pop que apenas com um pequeno repertório deixava marca no panorama do burgo – os Toranja, de Tiago Bettencourt. Foram tempos excitantes, uma aventura de sucesso. Mas havia um vazio, sempre um vazio…

Já com uma licenciatura em Psicologia, decide participar num concurso de fados no Porto. Aprendeu oito temas. Mas o maior prémio de Cuca veio em forma de uma inabalável certeza: «É isto que eu quero fazer», terá pensado na altura. E determinada, foi em busca do que lhe estava destinado.

Foi um ano a deambular por Lisboa, a cantar e a aprender, sempre a aprender. Tornou-se uma presença habitual nos locais onde acontecia fado, falou com músicos, outros fadistas. «Havia um mundo de coisas para aprender, que tinham a ver com a poesia, com a emoção». Conheceu Ana Moura, que a encoraja a continuar. E uma noite é apresentada por Nobre Costa a João Braga, conhecido pelo seu gosto e visão de lançar novos fadistas nos seus espectáculos.

«O que fazes daqui a três dias?», terá perguntado o fadista a uma muito impressionada Cuca Roseta.

«Nada.», respondeu.

«Óptimo. Então vais entrar num espectáculo comigo para a RTP».

Alguém falou em destino?

Depois seguiu-se o ciclo do Clube de Fado. Mário Pacheco, guitarrista e proprietário da casa, tem uma sensibilidade especial para as novas vozes. Gostou da nova fadista e rapidamente passou a integrar o prestigiado elenco. Durante este tempo soube absorver todos os segundos de fado à sua disposição. E foi numa dessas noites em que não deveria lá estar que aconteceu o que justifica estas linhas. Assim, sem planos ou esperanças. A noite em que sem estar previsto, absolutamente por acaso, sorte ou mistério, Cuca Roseta encontrou o argentino Gustavo Santaolalla: músico, produtor, reconhecido compositor de bandas sonoras (com ´Oscares pela música de Babel e Brokeback Mountain). O tal destino teimoso, em que cada vez mais Cuca acredita. Diz ela, como que revendo essa noite pela primeira vez, pausada mas definitiva: «Acredito no destino. E tudo me aconteceu de forma simples, apanhando-me quase distraída».

Ao ouvi-la cantar, Santaolalla, depois do deslumbre, disse de imediato querer gravar com ela. Cuca, sensatamente, estranhou – porque não fazia ideia sobre quem era o desconhecido que lhe fazia semelhante proposta. Alguém enfim identificou o argentino, Cuca pede desculpa por não ter ideia de quem era o produtor. Santaolalla responde: “Não interessa quem sou. O que interessa é que vi em ti uma estrela”. E saiu.

Os dias foram passando, e Gustavo continuava a ligar e a insistir para que Cuca  conhecesse o projecto musical que o produtor tinha construído para ela. Entretanto, outras editoras, sabendo do interesse do produtor, começam a cercar Cuca Roseta, que recusa tudo com a força que provém da certeza da paixão («a minha relação com o Gustavo foi mesmo um caso de amor musical», irá confessar mais tarde.  E desta maneira o que tinha que acontecer, aconteceu. Começava a nascer o disco Cuca Roseta.  

Todos os fadistas que fazem o seu percurso em casas de fados passam por uma terrível provação quando têm que enfrentar a solidão do estúdio. A rapariga que participou em Fados de Carlos Saura ou cantou para Bento XVI durante a visita do Papa a Portugal conseguiu dar tudo o que tinha, beneficiando do incrivel ambiente proporcionado por Gustavo Santaolalla. E confirma: «Não senti muito a solidão de estar ali a gravar, entreguei-me `a emoção». O resultado é um belissimo disco de estreia, com um repertório que passa por alguns clássicos (“Rua do Capelão”, “Avé Maria Fadista” ou “Marcha de Santo António”), outros fados musicados (o magnifico “Porque Voltas De Que Lei”, letra de Amália com a colaboração do próprio produtor e do tanguero Cristobal Repetto; ou “Maré Viva”, um poema de Rosa Lobato Faria levado para o castelhano por Santaolalla), e sobretudo a afirmação de Cuca Roseta como letrista em causa própria. Excelentes exemplos são “Homem Português” e “Nos Teus Braços”, onde Cuca assina também a musica. Esta «autonomia» de talento torna-a assim ainda mais próxima do que canta.

Como cúmplices musicais perfeitos, Mário Pacheco na guitarra, Pedro Pinhal na viola de fado e Rodrigo Serrão no contrabaixo. E ao comando de tudo, a extraordinária sensibilidade de Gustavo Santaolalla, a dar espaço, tempo e voz para que Cuca cumpra o que sente e enfim o possa mostrar ao mundo, porque a alma e universal.

Talvez estes sejam dias difíceis, em que a realidade nos invade mais do que gostaríamos. Mas a alma resiste, a alma persiste. A força quase mistica que se desprende de Cuca Roseta, a sua fé, a sua comunhão com o que sente e com a natureza que a rodeia pode oferecer esperança de redenção de tudo pela beleza. Quando se volta a insistir no destino, ela sorri outra vez e outra vez nos desarma: «Eu quero simplesmente cantar». E levanta-se, e junta-se aos músicos que a esperam e a sua voz afinadíssima prende-se com a da guitarra portuguesa e deixamo-nos levar por este caminho de verdade absoluta.

E assim sai para o publico o seu primeiro disco em nome próprio: Cuca Roseta, produzido por Gustavo Santaolalla, que atinge o galardão de Ouro e que é falado em todos os meios de comunicação nacional e internacional, com todas as melhores referências, as melhores criticas. Nasce assim o principio de uma carreira brilhante que rapidamente a posicionou na primeira linha dos melhores intépretes de Fado da actualidade.

O sucesso passaria obviamente pela presença nos mais distintos palcos e festivais,        Presença e como escolha consensual para cabeça de cartaz dos maiores eventos de Fado Nacionais e Internacionais entre os quais se destacam o Cool Jazz Fest em Cascais, o 1º Festival de Fado de Madrid, o 1º Festival de Fado de Portimão. No plano internacional Cuca Roseta volta a dar cartas e mostra a sua voz em concertos por cidades de todo o mundo, entre as quais Rio de Janeiro, Nova Iorque, Abu Dhabi, Tbilisi (Geórgia), Paris, Barcelona, Londres. Cuca Roseta afirma-se assim, segundo a critica, como “a nova voz do Fado. Uma voz que todos querem ouvir”.

Depois de uma tour inesgotável, termina este ciclo com um grande concerto no Teatro Tivoli, onde convida Carlos do Carmo, Pedro Abrunhosa e André Sardet.

2012

Chegamos ao ano de 2012, um ano em que se prepara e grava o seu segundo disco, desta vez com nome e história, onde a fadista procura o fundo da sua alma, da sua raiz.

Depois de um primeiro disco celebrado e trabalhado por um produtor planetário – Gustavo Santaollala – com o peso da verdade que o fado exige e ela entrega – Cuca Roseta vai ainda mais longe.

Isabel «Cuca» Roseta, dá um passo em frente na história do Fado. Dona de mil e um talentos, decide escrever e compor a maior parte dos temas do seu próximo disco e esconde-se num processo criativo intenso e repleto de paixão. Deitou o conforto às urtigas e, numa coragem quase anacrónica, resolveu dar tudo o que tinha: letras e músicas próprias, num disco quase em contra-ciclo, quase de cantautora.

«Raiz», o nome do segundo disco de Cuca Roseta, é quase auto-explicativo. Quase, porque Cuca respeita a tradição ou a origem do que canta, mas quer mais. Procura-se e encontra-se a si própria, e é essa aventura solitária que seduz e nos prende. Surge assim um disco feito quase exclusivamente de originais. A favor de todos nós que a podemos escutar.

Este nível de entrega não poderia ter acompanhantes: exigia cúmplices, parceiros à altura da alma que se queria entregar. Dos músicos de excelência às ocasionais parcerias (Tozé Brito, André Sardet, Pedro Lima ou um surpreendente letrista descoberto no chef José Avillez), tudo neste disco respira confiança e respeito pelo que se quer dizer. A «raiz» da arte de Cuca é partilhada mas sem perder um milímetro da sua autenticidade.

Provavelmente bastaria para muitos, depois de um disco de sucesso, ter a coragem de avançar com um registo de originais. Mas Cuca Roseta fez isso e mais: em absoluto combate com os dias cor de cinza que vivemos, oferece um Portugal esperançoso e universal na sua música. Melancolia, certamente que existe; mas a esperança que se desprende de Raiz – e logo de Cuca Roseta – é tão bem-vinda.

Nesta raiz, e não por acaso, todos os temas são nomeados por «fado». Excepto um:a Marcha da Esperança. E é tão fácil perceber porquê: ao ouvir tudo o que está nesta «Raiz» ouvimos o coração e as emoções de quem a fez. Não consigo imaginar maior ambição para um artista e muito menos para quem o quer ouvir.

2013

O disco é apresentado e lançado em Maio de 2013 no Mosteiro

dos Jerónimos, associado ao simbolismo de força e coragem do referido monumento. Também Cuca Roseta afirma aqui a sua coragem e a sua dedicação ao Fado.

O disco alcanca um novo sucesso, desta vez ainda mais supreendente. Com este passo em frente, Cuca Roseta distingue-se de todos os outros intérpretes de Fado e reforça aqui o seu caminho independente. O caminho com o qual vive o seu dia-a-dia, na procura da sua musica, da sua alma e de todas as emoções que quer passar a quem a escuta. A musica de Cuca Roseta é agora mais original, mais respeitada e viva. Tem corpo e alma própria.

A carreira de Cuca Roseta continua, lado a lado com a sua criação artistica: cada vez mais longe, cada vez mais intensa.

Depois do lançamento de “Raiz”, faz uma tourné de enorme dimensão em Portugal, passando por grandes concertos em Lisboa, Porto, Festival Med em Loulé, Aveiro, Ilhavo, Tróia, Castelo Rodrigo, Condeixa, Coimbra, Espinho, Areia Branca, Vila Real, Lamego entre muitas outras cidades. No panorama internacional volta a muitos dos países onde já tinha actuado e mostra a sua voz em novos cidades e festivais como em São Paulo (Brasil), Bruges (Bélgica), Arzila (Marrocos).

Neste novo ciclo, este segundo disco, Cuca Roseta é cada vez mais uma voz marcante do Fado, surgindo inumeros convites para parceiras e duetos. Neste mesmo ano de 2013 canta assim com alguns dos maiores e mais marcantes artistas internacionais de : Julio IglésiasDjavan e Silvia Perez Cruz. O caminho e a afirmação de Cuca Roseta não poderia ser melhor.

2015

E chega o ano de 2015, ano em que Cuca Roseta se afirma de uma vez por todas, como uma das vozes mais surpreendentes e marcantes do Fado. Um ano de conquista, de afirmação e de inúmeros sucessos. Neste ano edita “Riu” pela mão do aclamado e distinguido produtor brasileiro Nelson Motta, que impulsionou carreiras como Bethânia, Marisa Monte, Elis Regina, Ed Motta entre muitos outros.

“Riu” é um disco surpreendente, virado para o mundo e no qual o produtor faz questão de o afirmar como um disco de “world fado”, um fado que todo o mundo quer ouvir. “Riu” traz todas as sonoridades mais próxima dos fado – e de todas aquelas que contribuíram para o seu nascimento – onde se sente claramente as influências do flamenco, do samba, da musica árabe ou até do jazz.

“Riu” é um disco assim tão surpreendente e fascinante que só podia ter como aliados alguns dos maiores “pesos pesados” da musica mundial. Cuca partilha aqui composições próprias com nomes como Bryan Adams, Djavan, Jorge Drexler, Pedro Joia, entre tantos outros.

O disco, que alcançou “platina” e que recebeu as melhores criticas e elevados elogios da imprensa, fez com que Cuca Roseta percorresse o país e os quatro cantos do mundo com a tour “Riu”, tendo realizado mais de 120 concertos num só ano.

Depois de tanto sucesso, de tamanho reconhecimento e de tantos concertos, o ano de 2016 terminou da melhor forma, tendo Cuca Roseta chegado aos Coliseus de Lisboa e Porto, onde foi recebida calorosamente com duas salas esgotadas. É nesta sala que desvenda discretamente muito do caminho do seu próximo disco, a editar ainda no primeiro semestre de 2017. Cuca Roseta quer fazer mais, mostrar mais e provar que a musica, a criatividade e o sonho não têm limites.

2017

Chega 2017. E no final do mesmo, depois de mais de 100 concertos realizados lança “Luz”, o seu trabalho mais recente.  Um disco cujo titulo é como uma alusão à candeia que ilumina o seu caminho, a uma luz interior que lhe traz o conforto e a segurança suficientes para fazer deste álbum um novo momento de revelação para Cuca Roseta, aquele que mais longe vai na definição daquele que é o seu fado. A força afirmativa que “Luz” traz, a segurança e a paz que existe nas suas escolhas, e uma elegância no canto que nunca antes se fez sentir de uma forma tão declarada. Cuca Roseta junta neste trabalho compositores como Pedro da Silva Martins, Carolina Deslandes, Jorge Fernando, Mário Pacheco, entre muitos outros. A fadista volta a conquistar o entusiasmo do publico e repetem-se as actuações em Portugal e no mundo, sendo cada vez maior o destaque internacional.

2018

Mais um ano passado e mais uma surpresa revelada. No final de 2018, Cuca Roseta edita um disco de Natal, um dos seus maiores desejos e sonhos enquanto artista. O disco, totalmente fora do fado, é um desvio temporário e propositado, que tal como o Natal, tem o seu tempo. Nele reúne uma grande parte do repertório mais clássico natalício, com um brilhante trio de Jazz e coros do país. Para o comemorar, Cuca Roseta decide realizar 3 concertos nas mais importantes igrejas de Lisboa, Coimbra e Porto, destinando toda a receita a uma instituição de solidariedade. A fadista acredita que este disco será intemporal, assim como novos contributos que pretende juntar em cada ano que passe.

2020

Chegado o ano de 2020, com a pandemia a assombrar a cultura, Cuca Roseta ousou lançar um álbum, desta vez de tributo a Amália Rodrigues, celebrando o ano centenário do nascimento da maior referência do Fado. O mesmo disco foi editado em Maio de 2020, sendo mais um álbum comemorativo do que um disco de carreira. Cuca Roseta sente que lhe fazia falta editar repertório como este que tantas vezes cantou e que serviu de inspiração e caminho nos primeiros passos do seu próprio fado. O mesmo disco teve uma aceitação estrondosa junto do publico e o amor da fadista a Amália Rodrigues foi muitas vezes cantado.

No final do ano de 2020, Cuca Roseta resolve avançar com mais uma surpresa. Um segredo que estava guardado e a ser trabalhado há mais de dois anos. Cuca edita no seu próprio dia de aniversário o seu novo disco “MEU”. Um disco que a fadista escreve e compõe todos os temas do mesmo. Mesmo em ano de pandemia, com muitas restrições à cultura, o novo disco “Meu” teve um impacto muito grande junto do publico e da imprensa. Foi um salto artístico muito longo de Cuca Roseta que deu enormes frutos. O merecido reconhecimento enquanto cantautora e um disco que tem percorrido o país e o mundo em concertos em formato tradicional e outros com orquestras. Cuca irá por agora seguir o seu caminho com o mais recente disco “Meu” que tem encantado todo o seu publico.

A fadista partilha ainda o amor por outras artes. É cinturão negro de taekondo e tem uma enorme paixão pela dança e pela pintura. É também Embaixadora de várias marcas portuguesas.

Quanto ao Fado, esse, o segredo é outra vez o mesmo, porque em Cuca Roseta não poderia ser outro: uma surpreendente, oportuna e deslumbrante verdade em estado puro.

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